Este livro se iniciou com um espanto: em uma coletânea de provérbios em umbundu e português organizada por um padre católico em meados do século XX são apresentados diversos provérbios “relativos a Deus”. Entre eles, Suku onganga é traduzido como “Deus é feiticeiro”. O estabelecimento de uma equivalência desse tipo, à primeira vista tão inusitada, só poderia ser compreendido a partir da consideração das relações estabelecidas entre os agentes nas missões. Assim, este estudo se volta para as missões da Congregação do Espírito Santo no Planalto Central angolano durante o período colonial, do estabelecimento das primeiras missões católicas, em fins do século XIX, até a eclosão da Guerra de Libertação, em 1961. Com base em documentos, entre os quais se destacam as traduções realizadas na missão e registros etnográficos e históricos referentes ao período, a autora busca apreender a prática nas missões católicas, a qual deu origem a diversas convenções de significação. A equivalência acima é um exemplo de uma dessas convenções: a relação estabelecida entre a figura do onganga e o deus cristão possibilitou aos agentes entrar em comunicação e disputa.
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