Sugestão de leitura:
NO FÚTILA, NO MAYOMBE:
modernidade, desenvolvimento e riscos no
tempo de paz em Cabinda - Angola
JULIANA LANDO CANGA BUZA
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Resumo:
Neste estudo coloca-se como questão as relações contraditórias de integração entre duas
localidades de Cabinda, província de Angola, com as atividades de exploração de recursos
naturais, como petróleo e madeira: a aldeia de Fútila, nas proximidades do Campo do
Malongo, onde se concentram as atividades petrolíferas sob a direção da Chevron-Texaco e a
vila de Buco Zau, imersa em território contíguo à Reserva Florestal do Mayombe. Como eixo
conceitual priorizou-se a modernidade, o desenvolvimento e o risco; como contexto mais
geral, a Reconstrução de Angola após estabelecidos os Acordos de Paz em 2002, quando se
percebe, em termos de concepção do desenvolvimento e da modernização, o estímulo a uma
economia dirigida pelos interesses da exportação de bens primários como petróleo e madeira,
apesar do forte apelo ao chamado desenvolvimento sustentável. Situando a constituição de
Angola enquanto país integrado ao processo de modernidade, desde colônia portuguesa até a
superação dos trinta anos de Guerra Civil, iniciados após a conquista da independência em
1975, procurou-se refletir sobre o significado, para populações mais diretamente atingidas por
empreendimentos exportadores, da adoção do modelo de desenvolvimento sinônimo de
crescimento econômico nas ações governamentais pela reconstrução do país. Atingidas muito
mais na exclusão, procurou-se aqui evidenciar de que maneira se promove a vida, se resiste
em meio à opulência, efetivamente se esforçam essas populações para superar os
constrangimentos a elas impostos, de ordem cultural, social e político, assim como ambiental,
relacionados às atividades de exploração dos recursos naturais. De outro lado, objetivou-se
também perceber o significado das exigências ambientais em estratégias de legitimação
empreendidas nas atividades de exploração dos recursos naturais, com vistas a mitigar os
efeitos desfavoráveis no meio social e ambiental que as envolve. Em conclusão, apresenta-se
incontestavelmente a face desintegradora de modos de vida locais, baseados na pesca,
pequena agricultura e coleta, sob o risco imposto pelas atividades exportadoras, sem, no
entanto, oportunizar ainda a integração do ponto de vista do desenvolvimento como liberdade
substantiva, isto é, no sentido de propiciar a estas populações condições de vida digna, de
operar estratégias inclusive políticas de reconhecimento coletivo e de valorização de outras
racionalidades mais adequadas a uma reapropriação social da natureza.
Palavras-chave: Recursos Naturais, Desenvolvimento, Modernidade, Saberes e Práticas
tradicionais
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